sábado, 21 de maio de 2011

Oração



Tem umas coisas que não dá pra explicar usando só a razão. Não dá. Não adianta. E eu tenho pensado muito nisso ultimamente. Amizade, por exemplo. Quando é de verdade, mas eu digo de verdade MESMO, é uma coisa transcendental. É, eu achei que não existia isso, mas aí, depois de uns 10 anos, reencontro uma amiga de infância na internet e, mesmo sem nos encontrarmos de novo, a amizade é a mesma. É a mesma confiança, fidelidade, parceria, é a vontade de participar uma da vida do outra, mesmo não podendo estar ali fisicamente.

É um amigo de faculdade se tornar amigo pra vida toda, pra todos os momentos, mesmo depois de passados trabalhos, provas, seminários, festas, e o sentimento estar ali. É cumplicidade. E eu digo, com um misto de orgulho e tristeza, que meus melhores amigos eu quase não encontro pessoalmente. Tristeza porque faz falta a companhia, o ombro, o abraço quando a gente precisa, mas muito orgulho por saber que é amizade mesmo, é de verdade. Já usando um dos clichês mais batidos, não tem distância, dificuldade, falta de tempo que diminua isso.

É uma receita de sobremesa por email, é o consolo por msn, o conselho por sms, a comemoração de uma conquista com um telefonema no meio da tarde. É rezar pra amiga encontrar um emprego novo, e desejar sorte pra outra que vai contar aos pais sobre o novo namorado. É sair pra desabafar sobre os problemas em casa e acabar falando só besteira. É ficar feliz porque a irmã da amiga casou e ajudar a escolher o vestido que a outra vai usar no casamento da outra melhor amiga. É ligar pra zoar porque o time foi eliminado do campeonato, é torcer contra só pra implicar. É olhar o mural na parede no quarto e ver que aquelas seis pessoas sempre se repetem nas fotos e ficar feliz por isso. É terminar esse texto e estar com os olhos cheios d’água.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Uma dose de amnésia, por favor!


Sou uma pessoa com a memória muito boa. Lembro da minha festa de aniversário de 3 anos, da roupa que usei no primeiro dia de aula na 5ª série (e da roupa que minha melhor amiga estava usando também) e lembro exatamente de como conheci meus melhores amigos. Enquanto a maioria das pessoas não sabem responder o que almoçaram no dia anterior, eu descrevo com detalhes o que comi, e juro por Deus que lembro de tirar uma foto com meu avô e meus primos no meu aniversário de um ano, mas ninguém acredita...

Virou piadinha de família, consenso geral: se eu lembro, é porque aconteceu. Costumo associar os fatos, lugares, datas e por isso, talvez, lembre de tanta coisa. Um simples perfume pode me remeter a situações que aconteceram há 13 anos, ou ouvir uma música me lembra uma ótima viagem, que me lembra um doce em especial... e por aí vai uma sequência de fatos que não acaba mais.

E o que deveria ser bom, uma dádiva, um talento, acaba se tornando no meu maior pesadelo quando tudo o que eu mais preciso é só esquecer. Tão simples... é só não lembrar! No meu caso é preciso lembrar de não lembrar. Não lembrar do perfume, não lembrar do gosto, é ouvir aquela música e não lembrar da primeira vez que escutou, é passar em frente àquele restaurante todos os dias e não lembrar de onde estavam sentados, é não lembrar em qual rua virar pra acertar o caminho...

Não lembrar é o primeiro e mais importante passo para não ter saudade. E não ter saudade é fundamental para saber esquecer. Esquecer as promessas, os planos, as viagens programadas, até mesmo futuros contratos profissionais. E apagar isso tudo da memória é essencial para seguir em frente, para continuar, para fazer tudo de novo, como se não lembrasse o quanto foi difícil esquecer.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Da arte de estar só


Eu queria colo, mas só tinha um travesseiro. Queria um abraço, mas só tinha almofada. Queria um ombro pra encostar, mas só encontrei o canto da parede. Queria cafuné até acalmar, mas a única coisa que deslizou nos meus cabelos foi a escova. Queria que secassem minhas lágrimas, mas só o vento se dispôs. Queria alguém que me desse paz, e a única pessoa que encontrei fui eu.