domingo, 25 de outubro de 2009

"Simple Rules"

Sem querer minha mãe me deu uma grande demonstração de amor hoje. Eu vou contar, e parece ser a coisa mais besta do mundo. E é mesmo... engraçado como pra mim, e acho que também pra muita gente, pequenas atitudes valem muito mais que grandes feitos. Hoje mesmo, na aula de inglês, quando eu e minha professora falávamos sobre “Simple Rules” (regras simples, no bom português), tinha lá um tópico: Less is More. Acho que, até hoje, aqui em casa, eu não tinha percebido como menos é mais mesmo.


Eu e meus abadás! É só aparecer uma micareta que eu já corro pra minha mãe me ajudar a arrumar a roupinha. Talvez seja porque ela teve loja de roupas muitos anos, desenhava os modelos e eu sempre ganhava as peças-piloto (e adorava porque tinha roupitchas exclusivas...); talvez seja porque eu não sei mexer com isso mesmo, não fazia nem as roupas das minhas bonecas; ou talvez seja única e exclusivamente só porque ela é minha mãe...


E num dia tão importante pra todo mundo aqui em casa, quando meu irmão passou no vestibular (denovo), lá vou eu correr desesperadamente pra minha mãe me ajudar a cortar e recosturar o ingresso do show. Tá, posso ser egoísta e tal, mas meu irmão estava com os amigos comemorando no quintal e a gente estava na sala, vendo televisão. Fui perguntar o que poderia fazer com aquele pedaço de pano amarelo mesmo, não custava nada...


Viramos e reviramos o abadá, lembramos da vizinha costureira, falei das minhas ideias, e claro, muitas nunca dariam certo se minha mãe não me avisasse como fazer... No auge da discussão fashion os amigos do meu irmão chegaram com ovos e farinha pra fazer mais um pouco de bagunça e sujeira. Lá fomos nós denovo comemorar, porque, segundo o brother, não se passa duas vezes no vestibular pro mesmo curso na mesma faculdade...


Ânimos amenizados, minha mãe foi tomar banho e eu me recolhi em frente ao computador pra lamentar alguma coisa com algum amigo. Eis que chega a minha mãe, com o semblante de cansaço que a água revelou e diz: “Sabe, eu estava pensando ali agora que se a gente cortasse aqui, nessa altura, acho que ia ficar daquele jeito que você queria, assim, meio de ladinho...”. Viramos e reviramos denovo o meio metro quadrado de tecido pra achar uma solução, lembramos denovo da vizinha costureira e que, muito bem lembrado pela minha mãe, eu tinha que ir lá cedo porque depois de certa hora do dia “ela toma umas e fica meio alterada”.


Aí ela saiu do quarto, foi dormir com dor de dente e de cabeça e deixou meu irmão e os amigos jogando truco na área dos fundos. Lembrou minha irmã mais nova que ela devia escovar os dentes antes de dormir e colocar uma roupa mais quente porque estava fazendo frio e ela não para coberta durante a noite.


Só quando ela foi dormir que eu pensei: meu irmão passa no vestibular, ela está com dor de dente e durante o banho pensa em como vai cortar o meu abadá? Como pode? Eu, numa situação dessas, pensaria no dente dolorido e na alegria de ter um filho numa faculdade pública (não necessariamente nessa ordem), e o abadá que ficasse pro outro dia, sequer lembraria disso. Mas minha mãe não, esqueceu de si e da sua grande felicidade do dia pra pensar em mim. Aí caiu a ficha...


Tá bom, tá bom... cortar um abadá pode não ser a maior e melhor demonstração de amor de uma mãe para uma filha, mas vocês entendem a gravidade da situação? Eu avisei no começo que era a coisa mais besta do mundo, e é. Mas, pra mim, menos sempre vai ser mais e são essas “regras simples” que continuam fazendo a diferença, sendo elas bestas ou não.

(escrito em 03/07/09)

2 comentários:

  1. Adorei!!

    Eu esqueci a frase bonita que eu disse ontem, mas reafirmo: os textos mais bonitos vêm de onde a maioria não enxergaria nada além de um simples gesto...

    Você enxerga mais, amiga, então vamos escreveeeeeeeeer!!! hahahaha

    =***

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  2. Eu me lembro muito bem desse texto. Ele é belo. A sua sensibilidade é invejável. Escreva! Separe um tempo, e escreva!

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